terça-feira, 3 de novembro de 2009

Qual é a cara do estudante?

Gabriela Gasparotto
Dança 2008


Essência... Seu significado transmite a idéia de interior, profundeza, uma manifestação que venha de dentro, do coração. Pena que muitas vezes as essências se perdem e as aparências, que sozinhas, são superficiais e até mesmo supérfluas surgem com uma força estrondosa, e acabam inibindo tudo o que as verdadeiras essências poderiam trazer de interessante para a formação individual, de uma sociedade, da capacidade de reflexão de cada um, daquilo que está ao redor e de todo o geral.

Às vezes fico pensando se as pessoas realmente refletem sobre aquilo que as cercam, sobre os atos feitos e sobre as pessoas ao redor. Muitas vezes quero acreditar que sim, que a maioria das pessoas tem o mínimo de senso político, social, ambiental, cultural e artístico... Porém esses meus pensamentos desaparecem e se decepcionam em poucas horas. É o contato com a realidade que me faz ver que a esperança é um sentimento bonito, porém fraco.

Ontem, resolvi seguir na marcha Nico Lopes, uma marcha tradicional dos estudantes da Universidade Federal de Viçosa. Esse ano, a marcha completou 80 anos e apesar de no começo ela ser uma festa de bebedeira, na qual os estudantes se reuniam em um bar para comemorar o aniversário do Dono do bar o Senhor “Nico Lopes”, as mudanças políticas no país transformaram a marcha em manifestos, protestos, se encaixando num âmbito bem mais político.

Eu concordo com o fato de que não estamos mais em uma repressão política, igual foi o Regime militar, mas ainda temos muito que manifestar para construir uma Universidade e até mesmo um país melhor. Parece utópico, mas é em pequenos atos que se consegue atenção e respeito. Todavia, devemos ter muito cuidado da forma como chamamos essa atenção...

Que respeito conseguiremos transformando um dos únicos espaços que os estudantes tem de se colocar e se manifestar, em uma algazarra, bebedeira a até mesmo vandalismo? Infelizmente foi a única coisa que eu consegui enxergar na Nico Lopes 2009.

Pessoas caindo de tanto beber, destruição das plantas que existiam nos carteiros da avenida principal da UFV, pichação de muros, pessoas urinando pela universidade, lixo por toda parte, brigas, manifestações de preconceito, enfim... Acredito que nunca foi essa a essência da marcha Nico Lopes. Sinto, porque a as únicas coisas com que a maioria dos estudantes estavam preocupados era com o trio elétrico que passava pelas avenidas de viçosa, com o preço da cerveja, e com a próxima música de axé que o a banda ia tocar.

É triste notar que a maioria não estava presente pelo fato da essência que a marcha deveria trazer, mas sim pela aparência, e somente pela aparência: música alta, muita gente, bebida e uma diversão descontrolada.

Uma minoria de estudantes se reuniu para tentar achar a manifestação do coração, mas, ela não estava lá, ela não existia. Afinal, esse ano a marcha foi construída em cima das superficialidades da aparência!

Entristece-me, pois a imagem de um estudante despolitizado e de um diretório central dos estudantes que só se preocupa com as aparências dos atos que tomam. Passam a representação do vandalismo, do preconceito, da violência e até mesmo da falta de cuidado com si mesmo. Infelizmente, na marcha Nico Lopes 2009 foi essa a cara do estudante!

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